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Entrevistas

A mistura peculiar de stoner e doom, de Andrei Mamede do Elephantus

7 de setembro de 20

Baterista integra o duo revelação da cena catarinense alternativa.

Elephantus é um Duo de Stoner/Doom, formado por Marcelo Maus ( guitarrista e vocalista) e Andrei Mamede (bateria) no final de 2019 em Blumenau/SC, que mistura elementos diferenciados (e, em primeiro momento, um tanto inusitados) na sonoridade de seu EP de estréia. Composto de duas faixas instrumentais mais atmosféricas e duas com vocais, o EP homônimo de estréia da Elephantus vem para revigorar a cena stoner nacional com seus elementos distintos e característicos, enquanto o single "No Rastro da Serpente" já vem colhendo elogios em mídias nacionais especializadas. 

Dono de uma pegada psicodélica  emotiva, Andrei Mamede, parece deleitar-se em um ritmo lento e arrastado, cheio de mudanças dinâmicas e influenciado por diferentes referências musicais ao incorporar idéias sonoras incomuns as batidas das composições. O baterista faz parte de uma das bandas mais diferentes e inovadoras da nova safra do stoner/doom/psy nacional, e podemos esperar uma grande trajetória para esse duo que pretende levar o nome do Brasil mundo a fora.Conversamos com o músico, Andrei Mamede, sobre sua trajetória na música, influências musicais, backline e outras curiosidades. Confira a entrevista!

Entrevista com A mistura peculiar de stoner e doom, de Andrei Mamede do Elephantus - Entrevistas - Arrepio Produções - Patos de Minas/MG

Você e o Marcelo Maus apresentam uma sintonia e criatividade fora do comum. Como funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto? Como a surgiu o duo Elephantus?

Primeiramente, muito obrigado pelo espaço! A resposta pode soar cafona, mas para mim é tudo resultado do nosso amor! Hahahaha. Eu e o Marcelo realmente temos uma amizade gigantesca, realmente nos amamos. E pasmem, como tudo nessa banda é recente e acontece rápido, com nossa amizade não foi diferente, nos conhecemos no final de 2017, por acaso de amigos em comum, e descobrimos que morávamos na mesma rua. Dali pra frente não nos largamos mais, sempre junto conversando e trocando ideias sobre sons e a vida. Nos apresentamos MUITAS coisas novas, por exemplo, se hoje amo Zé Ramalho a culpa é 100% dele. Até criarmos este, tentamos outros projetos juntos, com mais pessoas, porém, depois de um tempo passei a insistir que deveríamos ser um duo, pois nossa sintonia já era evidente. Ele sempre falava de um pedal que emulava som de Sitar, instrumento típico indiano, e de repente ele comprou o pedal.
Após isso que fomos de fato cogitar e pôr prática a ideia de sermos um duo, o nosso combinado era só fazer som autoral baseado em, como ele mesmo diz, “riffão gostoso” e tudo então foi acontecendo. Escolhemos o nome Elephantus (elefante em latim) pois queríamos representar algo místico, poderoso e universal, então o Elefante era a figura perfeita, pois é um animal místico e divino da Índia, que é o país originário da Sitar, instrumento cujo som está presente na nossa música, então foi tudo se encaixando ao redor disso, bem como a escolha da fonte do logo. Então o nome representa o peso e misticismo do som enquanto a fonte do logo e origem do nome, os elementos do som.

Dentro do cenário do rock, progressivo, doom e stoner rock nacional, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção?

Sempre tento me manter atualizado do que rola no underground, principalmente nacional, acho nossa cena e nossas bandas muito fodas. Inclusive, faço parte de um Coletivo chamado Espelho Cego. Organizamos eventos independentes e autorais, pra movimentar nossa cena local e fazer pontes com as cenas de outros locais também, já tivemos a oportunidade de trazer Test e Deaf Kids duas vezes cada, Dor, Fuzzly, Fusage, dentre muitas outras... Nosso último evento em março desse ano contou com um line de muito peso e respeito: Cäbränegrä, Red Razor, Desalmado e Test! Tenho ficado por dentro de novidades acompanhando os canais Scena, Baile do Capiroto, Flashbanger e pela Revista RaroZine também. No que diz respeito às bandas, eu tenho ouvido diversos estilos, mas sempre muita coisa nacional. Gostaria de mencionar algumas bandas aqui, Mudness de Floripa, Cäbränegrä de Blumenau, Fusage de Maringá. Me apaixonei recentemente pelo lançamento do Sangue de Bode e
tenho descoberto bandas antigas também, principalmente de Rock Progressivo dos anos 70, tipo Camel, que eu ainda não tinha parado para ouvir.
Sobre a cena estrangeira confesso que tenho me inteirado pouco, sigo o canal Hate5Six que faz gravações de shows de Hardcore, através de lá conheci muitas bandas fodas como Turnstile e Power Trip, cujo vocalista faleceu esta semana, foi uma grande perda pra cena. A cena Hardcore nacional é magnífica também, bandas como Questions, Bayside Kings, Surra, Paura, Manger Cadavre, incluindo as clássicas RDP e DFC, indo mais pro grindcore temos Rot, Hauser, Hutt, Test, Facada, Expurgo, Baixo Calão, Desalmado dentre muitas outras,... Cenas muito ricas de bandas e ideais!
 
Falando mais especificamente de Stoner e Doom, confesso que ouço pouco até, em comparação com os demais gêneros, porém, posso citar as clássicas Muñoz,Cassandra, Projeto Trator,Ruínas de Sade, Red Mess e Fuzzly. Porém, vejo um grande destaque surgindo cada vez mais de Jupiterian e Saturndust, essas últimas são descobertas mais recentes para mim. Lembrei de uma outra banda nacional que descobri exatamente nessa semana (embora já conhecesse por nome), por coincidência, e me conquistou: Galactic Gulag.

Qual modelo e marca de bateria, pele, baqueta e estantes que você usa? Conta para a gente a relação de amor com seu instrumento.

Então, a minha relação de amor com meu instrumento pode ser dita como mais platônica do que física hahaha. Demorei muitos anos para ter uma bateria, então ainda assim, quando tive, não ficou na minha casa. Comprei uma Michael bem simples de um colega há uns 4 anos, então levei ela para casa de outro amigo e ficou lá para ensaiarmos, paramos e está la até hoje. As peles e ferragens são as que vieram quando comprei, ainda estou descobrindo as coisas que gosto e as que cabem no bolso, são coisas diferentes haha.
 
Sobre baquetas, sempre gostei das 2B e na questão de pratos, tenho que agradecer aos meus amigos e influências musicais e pessoais Ruan Mueller e Jhonatan Café que me doaram seus pratos antigos que ainda me acompanham. Outro grande amigo e influência que tenho que agradecer é ao Dudz da Zoidz de Floripa, sempre me incentivando e emprestando equipamentos ao tocar em Floripa, inclusive me presenteou com um porta-baquetas e suas baquetas Signature. Algumas aquisições recentes foram cowbells e blocos sonoros para experimentarmos mais sonoridades e culturas brasileiras.

Quais são as suas maiores influências musicais? Para você qual é o maior baterista de todos os tempos?

Vou além das bandas óbvias e clássicas aqui, vou começar citando meu grande amigo, irmão e que foi professor de bateria antes de tudo isso, Ruan Rogê Mueller, ele é um dos grandes responsáveis por abrir minha cabeça para além do metal, me apresentando muitos ritmos percussivos, Jazz e a música brasileira num geral. Outra grande influência musical minha foi o Maracatu, fiz parte do grupo da cidade por um breve tempo e aquilo me abriu a mente também, que fez eu me afundar mais ainda em ritmos de percussão, por isso amo Chico Science & Nação Zumbi e mais recentemente tenho mergulhado mais nos ritmos brasileiros e descoberto Os Tincoãs e a Orquestra Afro-Brasileira.
Nas influências musicais e pessoais, admiro muito a pessoa e obra de Max e Iggor Cavalera, João Gordo e Jão do Ratos (citando clássicos), mas também me identifico muito com o som e visão de mundo do pessoal do hardcore e grindcore num geral, em especial o pessoal do canal Scena (Caio, Estevam, Nata) no qual tem me agredado muito musicalmente e pessoalmente por conta do conteúdo político e social abordado também.
Falando de bateristas, aí complica...
Meu amigo Ruan Mueller sempre estará na lista, ele também me apresentou dois ícones que acompanho até hoje, Kiko Freitas e Dennis Chambers. Em termos de pegada com certeza Iggor Cavalera (SEMPRE) e Boka do Ratos. Também é magnífico assistir ao Eloy Casagrande tocando, porém, não me identifico tanto embora admire muito. Para mim, tudo começou com Lars Ulrich Nicko McBrain e Dave Lombardo (aliás, que baita ser humano), então eles são influências pra faísca inicial também. Quero deixar registrado que serão minhas inspirações e influências eterna, todo e qualquer músico de percussão de ritmos latinos, brasileiros, africanos, asiáticos, o que for.

Suas linhas de bateria demonstram uma combinação de técnica, criatividade e de muita emoção ao tocar. Você sempre compõe de forma natural ou tem a tendência em analisar metodicamente tudo que compõe?

Acho que um mix disso, eu e o Marcelo já criamos música do nada, de jams, mas também, dentro dos sons a gente discute muito como quer soar. Por exemplo, a gente queria uma soasse pesada e mais lenta/densa e isso fosse aumentando o ritmo e mudando o peso durante ela, numa progressão, assim surgiu a música “O Chamado da Floresta”, mas a base dela surgiu de uma jam e então fomos lapidando. Acho que é isso, a gente faz jams, grava, pega partes que gostamos daqui e dali, e então, se soa bom pra nós, se soa como a gente, a gente começa a pensar nas ideias que podem vir a partir dali. Nisso acho que podemos citar a parte da criatividade.
Sobre soar como técnico, agradeço muito! Porém não sei explicar... hahaha. 
Como mencionei antes, eu nunca tive bateria em casa, mesmo depois que comprei uma, deixei na casa de um amigo para ensaiarmos e depois de um tempo paramos e continuou la. Vida de apartamento tem disso... Hahaha. Agora iremos resgatar ela pro nosso estúdio próprio. Sempre me faltou disciplina para estudar e praticar, apesar de já ter feito aulas e ter percebido uma certa facilidade em desenvolver e evoluir, mas ainda vou mudar isso! Porém, desde jovem, eu SEMPRE prestava atenção em tudo que estava sendo tocado na música, na questão de bateria e ritmo. Até mesmo quando em shows, desde mais jovem, sempre tentava ficar perto do baterista pra ver como ele tocava. Então acredito que fui pegando uma prática de conseguir imaginar, sem o instrumento, como tal parte é executada. Sempre tinha (ainda tem) uma bateria de algum som rolando mentalmente! Então podemos dizer que daí vem o sentimento da paixão ao tocar.

Entrevista com A mistura peculiar de stoner e doom, de Andrei Mamede do Elephantus - Entrevistas - Arrepio Produções - Patos de Minas/MG

Como a música surgiu em sua vida?

Ótima pergunta, não sei se realmente já parei para pensar nisso... Hahaha. Mas vamos lá. Acho que de certa forma, muito veio dos meus pais, principalmente do meu pai. Lembro de ir aos bares e botecos com ele desde criança e lembro do meu pai sempre com amigos batucando um samba ou pagode em algo, seja na mesa, seja fazendo com a boca, seja com instrumentos, mas sempre do jeito dele, ele não era músico, mas tinha a percepção da música e da batida e fazia acontecer. Acredito que isso realmente, sem eu perceber, me fez me atrair mais por percussão e bateria e talvez ativou algo na minha cabeça que até hoje eu fico batucando na perna, mesa, o que seja (hiperatividade talvez...) e foi ele também que me mostrou o rock clássico, Led, Queen, Sabbath, AC/DC, Purple, Scorpions, Nazareth e afins. Então esse foi o pontapé inicial, acredito.

Qual foi o melhor momento para você como músico na trajetória do Elephantus? conta pra gente.

Nossa trajetória é curtíssima, porém, tem alguns detalhes dos quais já me orgulho muito dentro e fora do palco! Por exemplo, a gente ter feito as quatro músicas do zero em apenas um mês, entre o primeiro ensaio e a estreia. Isso realmente é muito especial pra mim! Sem mencionar o fato de que nossa primeira música saiu do começo da nossa primeira Jam! Só percebemos depois ao ouvir a gravação do ensaio que tinha um som quase completo ali já... Dai organizamos as partes e virou “A Espinha Dorsal da Noite!”.
Outro detalhe especial é o fato de antes da nossa estreia já tínhamos 3 shows marcados, incluindo um no lendário Taliesyn em Floripa. O show de Floripa estava marcado para final de Janeiro, porém, nossa estreia foi em Novembro e o produtor e amigo, Matheus Jacques da Bruxa Verde Produções, veio até Blumenau assistir nossa estreia e após o show ele nos disse que nos queria em Floripa antes de Janeiro, queria em Dezembro já, menos de duas semanas depois! Então nosso 3º show da vida já foi no lendário Taliesyn Rock Bar e foi incrível!
A nossa própria estreia foi marcante, logo primeiro show num evento da Espelho Cego ao lado de FUZZLY, Mudness e Mordor Truckers. Responsa demais! Hahaha Outro momento incrível foi o nosso último show, fomos convidados pelo Arnoni,grande figura de São José/Floripa para tocar no festival dele, em Março, foi nosso último show antes da pandemia e fechamos o festival, o dia inteiro foi muito divertido e com várias bandas fodas! De certa forma somos muito agradecidos por todos os momentos e shows, quem nos conhece sabe disso, a paixão pelo underground realmente é grande!
Agora, fora dos palcos, com certeza ressaltamos a ótima repercussão do nosso single e posteriormente o EP também, gerando muitos comentários nacionais e internacionais, reviews nacionais e gringas, estamos muito felizes com o nosso trabalho, temos orgulho demais do que fizemos, a gente fica realmente bobo com tantos elogios que temos recebido hahaha.

Qual é a sua faixa favorita do último EP lançado pela banda?

Sem dúvidas essa é uma das perguntas mais difíceis que já me fizeram nos últimos tempos! Realmente tenho um amor muito grande por todas, são como nossos filhos, cada tem um motivo diferente que me faz gostar mais. “A Espinha Dorsal da Noite” amo pois ela é muito climática, te faz viajar e te levo pra um abismo no final, e ela basicamente saiu do começo da nossa primeira jam na vida, sem percebermos! “O Rastro da Serpente” amo pois ela tem ritmos e passagens maravilhosas, mistura muitos elementos. “O Chamado da Floresta” é incrível pois começa muito pesada e progride até uma viagem astral, assim que me sinto! Amo “Elefantíase Pineal” pois também traz elementos de outra cultura, aliado à passagens que me contagiam demais e ela fecha o álbum e os shows, e ela tem esse ar de final eletrizante. Juro que tentei pensar e escolher apenas uma, mas não deu...

Quais os planos para 2020?

Antes de tudo, torcer para a bendita vacina chegar logo. Nesse momento o Marcelo está terminando de ajeitar nosso estúdio em sua casa nova, isolado acusticamente, em breve retornaremos nossos ensaios para compor e criar coisas novas. Agora, com nosso cantinho, tudo fica melhor e mais fácil. E queremos explorar ao máximo nosso EP, fazer ser ouvido pelos quatro cantos do mundo, queremos ser ouvidos e vistos! Obrigado pelo espaço e quero desejar muita paz entre nós e guerra aos nossos senhores!
 

Confira o EP "Elephantus": https://spoti.fi/2Nf7nma

Leia aqui a resenha do EP debut da banda: https://www.rarozine.com.br/review-o-debut-do-elephantus/

 

Fim da Entrevista