Embora os baixistas de punk rock tenham tipicamente se mantido em papéis tradicionais em bandas, alguns poucos se destacam não só pelo seu som e estilo de seu instrumento, mas também com sua desenvoltura e conexão com o público na hora de tocar, e Ilton Tiger, baixista da Backdrop Falls não podia ser diferente.
Sua energia e carisma são excelentes, e demonstram que o punk é mais do que um gênero, é uma atitude. O baixo de Tiger serve como uma âncora crucial entre o ritmo e a harmonia da banda, e tem um papel igualmente importante na definição da textura e substância do som do grupo.
A banda de punk rock Backdrop Falls, vive um ótimo momento em sua carreira desde o lançamento internacional do full album "There's No Such Place as Home", distribuído no streaming via Electric Funeral Records e com distribuição física mundial de cd e k7 pelos selos Electric Funeral Records (BRA), Dinamite Records (USA), Bomber Music (UK), Geenger Records (Croácia), Mevzu Records (Turquia), 20 Chords Records (Espanha), Duff Records (Itália), Infected Records (Portugal), Audioslam (Chile) e Razor Records (Argentina).
Conversamos com Ilton Tiger, baixista da Backdrop Falls, sobre influências musicais, sua trajetória na música, backline, entre outras curiosidades.
Você e os músicos do Backdrop Falls apresentam uma conexão muito forte em suas músicas . Como que funciona a parceria de vocês como músico e amigos dentro do projeto? Como foi o convite pra entrar na banda?
Entrei na banda oficialmente em abril de 2018, antes disso, tive de substituir o antigo baixista (Erick) para um show que a banda fez em novembro de 2017, no Festival do Sol em Natal/RN, o que guardo com muito carinho, pois foi o meu primeiro show na vida. Alguns meses depois, o Matheus, com quem sempre mantive contato, me chamou para uma reunião para discutir sobre o futuro da banda, minha disponibilidade em assumir o baixo - aceito de imediato – as pretensões com a nova formação e as ações pro primeiro álbum.
Embora algumas músicas já estivessem prontas, consegui encontrar espaço para contribuir com alguns arranjos e isso só foi possível porque a banda possui uma dimensão experimental muito forte e sabe conciliar com as raízes e referências. Todos se dispõem a ouvir como cada um interpreta das músicas, em busca de extrair o melhor, daí foi construída a parceria.
Dentro do cenário de rock e punk brasileiro, você costuma acompanhar bandas com trabalho autoral? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado à atenção?
O cenário autoral sempre foi meu foco. Assim que cheguei à cidade – sou de Teresina/PI – tentei descobrir quais eram as melhores bandas da cidade, quais eram os festivais e obviamente, a oferta de bandas em Fortaleza sempre é muito maior do que em outros lugares e sempre com bandas e músicos de vários estilos e de alto nível, posso citar a Damn
Youth como uma das melhores do cenário; tive o prazer de assistir o Surra tocar e a energia que dos caras é algo impressionante. Hot Water Music, Rise Against, Black Stone Cherry e Gorilla Monsoon são algumas bandas que sempre escuto nos dias de hoje, não são necessariamente novas, mas para um obcecado ouvinte de Thrash/Death, são excelentes influências, quando recorro a algo fora do contexto do metal pesado.
Que dica você daria a músicos brasileiros que tem medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
Não tenham! Assisti, recentemente, uma entrevista do Rick Bonadio – “O Rock vai voltar?” - cuja fala endosso 100%. O Rock/Metal é algo de raízes muito fortes, o que não deve ser interpretado como petrificado ou obsoleto. Curiosamente, as bandas que ousam experimentar, com a devida competência, são as bandas que conseguem romper a resistência do público e se lançarem como novas influências e dividir palco com as
bandas com as quais as inspiraram a criar música. O Rock PRECISA que as pessoas o experimentem e de várias formas.
Qual modelo de baixo, cordas e amplificadores você usa? Conta pra gente a relação de amor com seu instrumento.
O baixo foi meu primeiro instrumento. No começo não tinha um e pegava emprestado (sem avisar) um Ibanez Gio de um cara que namorava minha irmã e era nosso vizinho. Depois de um tempo fui tocar guitarra, mas, nunca esqueci o peso do baixo. È um instrumento capaz de unir a harmonia e ritmo em uma música, é uma enorme responsabilidade, sem falar que não existem dois baixistas em uma banda, então é muito individualista e eu curto muito isso.
Atualmente eu toco um Giannini Jazz Bass modelo Gcb-08, regulado com D'Addario 0.45. Futuramente vou fazer umas modificações na captação e hardware, é um instrumento da década de 80, que aguenta as cacetadas, então é muito merecedor de um upgrade. Em casa estudo em um Peavey Max 115, que passou muito tempo no estúdio como principal e apesar do tamanho deu conta do recado; No estúdio, toco em um Laney RB4, que é muito potente e está sendo fantástico para a pré-produção do novo álbum.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior baixista de todos os tempos?
A lista é longa: Pink Floyd - David Gilmour simplesmente não sabe fazer algo menos que extraordinário; The Who – só tem cavalo na banda; Metallica – Rip Cliff! Jason Newsted tem peso e harmonia de uma forma muito massa; Red Hot Chili Peppers – uma banda completa;
Eu cresci no meio da MPB e do rock nacional porque minha mãe tinha um restaurante e me lembro de um baixista que era o solista de uma banda DE TANTO QUE O CARA TOCAVA, não lembro o nome do cara, mas preciso dizer que ele foi uma das minhas maiores influências. Lary Grahan é o melhor de todos os tempos.
Podemos dizer que suas linhas de baixo apresentam muita técnica e emoção. Como se dá o seu processo de criação e composição?
Podemos dizer que é mais emoção. A emoção é o que me guia e na verdade, queria poder ter mais técnica pra tentar expressar melhor o feeling no momento. Criação/composição sempre vai ser algo profundo pra mim. Preciso escutar a mesma melodia várias vezes, para destilar aquilo de melhor que possa vir a ser utilizado como união entre a harmonia e ritmo. Não gosto de ir pelo caminho mais fácil e não importa quão simples possa ser a música, pra mim, é algo que utilizou o meu melhor, pra ficar pronta.
Como a música surgiu em sua vida?
Tive uma infância complicada, logo, era natural que minha mente se enchesse de coisas complexas. Quando aprendia a tocar as músicas que faziam parte das fases que vivi, tudo aquilo que estava na minha cabeça deixava de ser um trauma, ou um pesar, e se transformava em motivação.
Tem algum show na história do Backdrop Falls que você ache que foi o melhor show?
Quando abrimos para o Face to Face. Era mais um show importante e estávamos todos muito afiados e ansiosos pra tocar.
Qual a sua faixa preferida do último disco? E por quê?
Flat on the Ground. Tem uma sonoridade animadora e ao vivo sinto todos os quatro membros unidos.
Confira o disco "There's No Such Place as Home":
Fonte: Collapse Agency
Foto 1:Max Bisouchet
Foto 2: André Figueiredo
Links da Collapse:
Banda:
Fim da Entrevista